Lula divide palanque com suspeito de envolvimento em milícia

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Wilton Junior / Agência Estado
Cabral e Lula no palanque em Campo Grande, Zona Oeste do Rio (Foto: Wilton Junior / Agência Estado)

No compromisso mais conturbado do dia, a inauguração da quinta Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de 24 horas, em Campo Grande, na Zona Oeste, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador do Rio Sérigo Cabral enfretaram constrangimentos.

Após insistentes pedidos e saudações do público, eles tiveram de dividir o palanque com o deputado estadual Natalino Guimarães (PMDB), suspeito de envolvimento com milícias e transporte irregular de passageiros.

Ao contrário das outras platéias, formadas por operários da futura Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e funcionários da Michelin, o público que lotou a UPA era formado basicamente por moradores de Campo Grande.

Antes da subida das autoridades ao palanque, eles cantavam músicas, gritavam o nome de Natalino e do seu irmão, o vereador Jerominho, preso no início do ano durante uma operação policial para reprimir milícias.

Protestos interrompem discurso de governador

Cabral foi interrompido, durante o discurso, pelo protesto de dezenas de concursados aprovados em 2003 para a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) e que até hoje não foram convocados. Visivelmente irritado, Cabral pediu calma:

"Eu só estou há um ano no governo, agüenta aí, companheiro". E se antecipando para evitar confusão na multidão, o governador pediu licença para voltar a falar. "Em respeito aos moradores da Zona Oeste, vamos voltar a falar da UPA". Ao fim do discurso, o governador foi aplaudido.

Sob o clima ainda tenso, Lula agradeceu o convite para conhecer o posto de atendimento médico, e elogiou o projeto, que, segundo ele, permite ao povo pobre ter tratamento de saúde decente e digno.

Lula sai em defesa de Cabral

O presidente voltou a enaltecer a boa relação de parceria que mantém com o governador do Rio. Ele lembrou que o governo anterior deixou paradas as 80 ambulâncias que o governo federal enviou ao Rio. E mais uma vez aproveitou para reclamar da imprensa que só fala mal do Rio de Janeiro.

"É preciso mostrar as coisas boas que acontecem aqui. O Rio precisa ser notado por isso. Nem tudo o que acontece aqui é violência. De mil moradores, um é bandido. Os outros 999 são pessoas de bem que querem trabalhar, estudar, ter saúde, ter lazer e viver com dignidade. Se a gente não cuida do povo, quem não deveria toma conta. O submundo, a bandidagem, começa a tomar conta, a cobrar pedágio. Não podemos deixar que uns poucos atrapalhem o direito dos outros", disse o presidente.

E deu um recado para os manifestantes que interromperam Cabral:

"A pressão dos concursados é legítima. Mas é preciso entender que no primeiro ano (de governo), a gente arruma a casa. Depois é que se começa a fazer as coisas. Cabral vai melhorar o sistema prisional do Rio", disse Lula ao se despedir.