TAILÂNDIA (PA) - A Polícia Federal (PF) vai trabalhar em conjunto com órgãos de fiscalização na Operação Arco de Fogo, iniciada hoje em Tailândia (PA), para inibir não apenas a ação dos que estão na ponta da exploração ilegal de madeira, mas também daqueles que, de fato, financiam e estimulam a atividade.
Foi o que afirmou o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional. “Estamos levando para a região uma capacidade considerável de investigação e perícia contábil para entrar na vida financeira dos operadores”, afirmou.
Ontem, chegaram a Tailândia cerca de 300 agentes da Polícia Federal, da Força Nacional de Segurança e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para implantar uma fiscalização ostensiva nas madeireiras e serrarias da cidade nos próximos dias.
Na última terça-feira (19), madeireiros e moradores que trabalham no setor tentaram impedir a retirada de madeireira que tinha sido apreendida na Operação Guardiões da Amazônia. No total, mais de 13 mil metros cúbicos foram recolhidos pelos fiscais.
Foto: Reprodução/TV Globo
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Retirada de madeira ilegal no Pará pode levar dois meses
“É um trabalho difícil e lento”, afirmou o coronel da Polícia Militar (PM) do Pará, Rolian Silva. Ele comanda a tropa de intervenção da PM em Tailândia, que atua em auxílio à Polícia Federal, à Força Nacional de Segurança e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos naturais Renováveis (Ibama). São, ao todo, 300 agentes que desembarcaram na cidade sem data para sair. Silva informou que o transporte do material é feito por caminhões, pela rodovia PA-150, e por balsas, pelo Rio Moju.
Nesta terça-feira, 26, segundo o coronel, os agentes da operação fiscalizaram mais duas madeireiras em Tailândia. Elas tiveram serviços suspensos e os funcionários foram dispensados. Técnicos ainda não concluíram a medição da madeira ilegal encontrada nos locais. “Nem toda a madeira é ilegal. É preciso verificar aquilo que excede a autorização de manejo”, ressalvou Rolian Silva.
O superintendente do Ibama no Pará, Aníbal Picanço, avalia que a partir das próximas ações de fiscalização sejam apreendidos até 40 mil metros cúbicos de madeira em Tailândia. “A cidade funciona como entreposto de madeira extraída de forma irregular de outras áreas do estado”, explicou Picanço, referindo-se à retirada das toras de reservas ambientais e áreas indígenas. Maçaranduba e ipê estão entre as espécies mais comuns.
As toras apreendidas em Tailândia são encaminhadas para um depósito em Marituba, município da região metropolitana de Belém. Na tarde de hoje havia no local sete caminhões e centenas de toras recolhidas nas ações recentes de fiscalização. O governo do Pará quer leiloar o material e reverter parte da renda em programas sociais de atendimento aos que deixarem a atividade.
O coronel Rolian Silva disse que o trabalho dos agentes ocorreu de forma tranqüilia, sem novas reações adversas por parte da população de Tailândia: “É óbvio que há um descontentamento pelo impacto na atividade econômica, mas a demonstração de força tem efeito sobre o comportamento da população”.
Para o Ibama, o apoio do aparato policial estadual e federal é fundamental para garantir a eficácia do trabalho de fiscalização: “Antes fazíamos os flagrantes e aplicávamos multas, mas ao darmos as costas a ilegalidade voltava imediatamente. Agora o Estado já entra fazendo a retirada do material”.
A prefeitura de Tailândia sustenta que o setor madeireiro é responsável por 70% dos recursos que circulam na cidade. Na secretaria estadual de Meio Ambiente há 147 pessoas jurídicas (empresas) registradas no município, mas apenas 60 possuem licenciamento ambiental. “Muitas são fantasmas e várias funcionam no mesmo endereço. É uma estratégia para facilitar fraudes em guias florestais”, afirmou o superintendente do Ibama.
PF estima gastos de R$ 180 milhões com operação para conter desmatamento
MATHEUS PICHONELLIda Agência Folha
A Polícia Federal estima que a Operação Arco de Fogo tenha um custo total de cerca de R$ 180 milhões, a serem gastos até o final do ano.
Nessa primeira fase da ação, cuja principal base é Tailândia (PA), aproximadamente 300 agentes federais (entre homens da PF, da Força Nacional de Segurança Pública e do Ibama) foram deslocados até a região. Outros cem policiais militares dão suporte aos agentes.
A idéia é que nessa etapa, que deve durar um mês, sejam averiguadas eventuais irregularidades das madeireiras --o que pode resultar na apreensão de madeiras extraídas ilegalmente, após análise de documentos e materiais. Serão vistoriados o armazenamento e o comércio de madeira.
O Ibama avalia a documentação da empresa, faz o levantamento da madeira estocada no pátio da serraria e apreende a madeira sem origem comprovada. Os agentes da Polícia Federal indiciam os possíveis responsáveis pelo crime ambiental --pode haver prisão se for constatado o flagrante.
Na segunda etapa, que deve mobilizar até mil servidores federais, devem ser instaladas 11 bases operacionais na floresta amazônica, em áreas consideradas mais críticas, onde foi constatado maior índice de desmatamento. Essas bases serão responsáveis por fiscalizar a entrada e a saída de madeira na região, no que a PF chama de trabalho de prevenção da comercialização de madeira extraída ilegalmente.
As bases devem ser instaladas nos municípios de Vilhena (RO), Várzea Grande, Barra do Garças, Sinop e Vila Rica (MT) e em Altamira, Itaituba, Castelo dos Sonhos, Xinguara, Marabá e Porto de Moz (PA).