Quarenta crianças «feiticeiras» entregues às famílias

Quarenta crianças «feiticeiras» entregues às famílias

As 40 crianças que em Outubro do ano passado foram libertadas numa operação policial na capital angolana quando se encontravam encarceradas em duas igrejas ilegais acusadas de "feiticeiras", já regressaram às suas famílias.

Depois de resgatadas pela Polícia Nacional (PN) quando estavam sujeitas a um regime de encarceramento e maus tratos físicos para serem "libertadas" da sua condição de "feiticeiras" em rituais que incluíam castigos corporais e sujeição a prolongados jejuns, as quatro dezenas de crianças foram entregues à guarda de um lar de acolhimento em Luanda.

Depois de quase três meses de reconstrução de hábitos sociais normais no Lar Kuzozla, as crianças que se encontravam a cargo desta instituição pública com créditos no acolhimento de crianças de risco e em risco, segundo a directora do lar, Elsa Costa, citada pelo Jornal de Angola, já foram entregues às famílias.

As crianças que se encontravam retidas por duas igrejas ilegais, no bairro de Sambizanga, em Luanda, tinham idades compreendidas entre um mês e 15 anos, chegaram ao Lar Kuzola no início de Novembro de 2008, algumas, como a Lusa relatou na altura, com sinais de maus tratos físicos violentos.

No entanto, a directora do Lar Kuzola, madre Elsa Costa, refere agora que o seu comportamento ao longo destes meses foi "normal".

A libertação das crianças resultou de uma operação policial organizada após denúncias de vizinhos e levou, posteriormente, à demolição das igrejas ilegais denominadas "Igreja de Revelação do Espírito Santo de Angola" e "Igreja Boa Fé", que eram oriundas da província do Zaire, região onde os casos de crianças maltratadas sob acusação de serem feiticeiras são mais graves em Angola.

Dezenas de crianças num quarto, fechado, com uma fogueira onde era queimado Jindungo (malagueta) era um dos métodos usados para libertar do "mal" as crianças, conforme descreveu no momento em que a Lusa divulgou este caso, uma das pessoas que acompanhou a operação de resgate.

Uma destas crianças tinha quatro dias quando foi entregue à igreja para ser "curada" e tinha apenas um mês de idade quando foi libertada pela polícia. A mais velha tinha 15 anos. Nesta operação foram detidas duas mulheres responsáveis pelas supostas igrejas onde as 40 crianças permaneciam

O problema das crianças acusadas de feitiçaria ou serem feiticeiros assume em Angola proporções que as autoridades e o Instituto Nacional da Criança (INAC) admitem como grave.

As áreas geográficas onde as acusações de feitiçaria a crianças são mais significativas situam-se a norte do país, junto às fronteiras com a República Democrática do Congo e Congo-Brazzaville (países onde o problema é igualmente grave) nomeadamente o Uige, Zaire, as Lundas, Norte e Sul, e Cabinda