Como Alexandre e Anna mataram Isabella
Revista Veja conta os detalhes do crime e a vida pregressa do pai de Isabella
Fonte: Revista Veja
FATO: Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acompanhados dos dois filhos e de Isabella, participaram de uma festa no prédio onde moram os pais de Anna Carolina, em Guarulhos. A comemoração se deu por volta das 21 horas no salão de festas. Em dado momento, Nardoni se enfureceu com o que seria uma má-criação de Isabella. Gritou com ela e lhe deu um safanão. A menina caiu no chão. Ainda nervoso, ele disse à filha chorosa: "Você vai ver quando chegar em casa"
Da Redação
Alexandre Nardoni
EVIDÊNCIA: câmeras do prédio dos pais de Anna Carolina registraram imagens de Isabella brincando na festa. A agressão de Nardoni foi presenciada por convidados que prestaram depoimento à polícia
FATO: já no carro, de volta para casa, Nardoni e Anna Carolina começaram a espancar Isabella. A madrasta asfixiou-a a ponto de a menina desmaiar. Quando chegaram ao prédio, Isabella sangrava. O casal embrulhou a menina em uma fralda de pano para evitar que o sangue pingasse no trajeto até o apartamento
EVIDÊNCIA: a convicção de que Isabella já subiu ferida se deve ao fato de a perícia ter detectado marcas de sangue no carro de Nardoni. O DNA do sangue é o mesmo de Isabella. Também foram encontrados no carro fios de cabelo da menina com bulbos. Isso significa que ela teve os cabelos puxados com força. O tamanho das marcas no pescoço de Isabella é compatível com o das mãos de Anna Carolina. A polícia encontrou a fralda que foi usada para envolver a menina lavada e pendurada no varal do apartamento – mas ainda foi possível encontrar vestígios de sangue.
FATO: o casal entrou em casa com Isabella no colo de Nardoni. O sangue começou a pingar já no hall do apartamento
EVIDÊNCIA: a perícia detectou marcas de sangue de Isabella em vários lugares: no hall, na entrada do apartamento, no corredor, no quarto da menina e no quarto dos irmãos. Também havia sinais de sangue na sola do sapato de Anna Carolina
FATO: Anna Carolina e Nardoni iniciaram uma feroz discussão. Decidiram, então, simular um crime cometido por um suposto invasor. A polícia não encontrou indício nenhum da presença de um terceiro adulto no apartamento
EVIDÊNCIA: vizinhos relataram à polícia ter escutado gritos e palavrões proferidos por Anna Carolina
FATO: com uma faca e uma tesoura, Nardoni cortou a tela de proteção do quarto dos meninos. Antes disso, limpou com uma toalha, que depois foi lavada, o sangue que escorria de um corte na testa de Isabella
EVIDÊNCIA: a perícia encontrou resíduos de tela na roupa que Nardoni usava naquela noite e vestígios do sangue de Isabella na toalha lavada e pendurada no varal
FATO: Nardoni jogou a filha pela janela
EVIDÊNCIA: a perícia concluiu que é do seu chinelo a pegada encontrada no lençol da cama próxima à janela. Ele apoiou um dos pés na cama para lançar a filha. O buraco está a 1,60 metro de altura do chão, altura aproximada de Anna Carolina. A perícia concluiu que só alguém mais alto do que ela, como Nardoni, teria força suficiente para erguer Isabella, que pesava 25 quilos e media 1,13 metro de altura, até o buraco na tela
FATO: assim que Isabella caiu, Anna Carolina telefonou para o pai. Em seguida, Nardoni ligou para o seu e só então desceu para ver a filha caída
EVIDÊNCIA: os registros das ligações feitas pelo casal mostraram que não houve tentativa de pedir socorro médico. O resgate foi solicitado por vizinhos
FATO: Anna Carolina desceu em seguida, com seus dois filhos, e começou a gritar que o prédio não tinha segurança. Dirigiu palavrões a todos à sua volta e chamou o marido de "incompetente"
EVIDÊNCIA: vizinhos relataram a cena em depoimento à polícia
FATO: os bombeiros chegaram e tentaram reanimar Isabella. A menina foi declarada morta a caminho do hospital.
“Um vagabundo que sempre viveu às custas do pai”
De Juliana Linhares:
(...) Alexandre Nardoni, de 29 anos, sempre teve uma vida confortável. Quando era estudante de faculdade, tinha um Vectra último modelo, comprado pelo pai, e uma moto esportiva Honda CBR 900 RR (hoje avaliada em 60 000 reais). Era dono de uma concessionária de motos e fazia estágio no escritório do pai, o advogado tributarista Antonio Nardoni.
Apesar de ter se formado em direito em 2006 pelas Faculdades Integradas de Guarulhos, Nardoni ainda está impedido de exercer a advocacia, já que fracassou nas três tentativas de passar no exame da OAB: em abril e em agosto de 2007 e em janeiro deste ano. Em todas as ocasiões, foi reprovado ainda na primeira fase das provas.
Nardoni se apresentava como "consultor jurídico" e dizia trabalhar no escritório de Antonio Nardoni, localizado no bairro de Santana, Zona Norte de São Paulo. Mas tanto funcionários do prédio onde fica o escritório quanto um vizinho de porta do advogado afirmaram nunca ter visto Alexandre Nardoni por lá. Amigos dizem que o sustento do rapaz e de sua família ainda provinha do pai.
O apartamento na Zona Norte de São Paulo em que Nardoni morava com a mulher e os dois filhos – com três quartos, piscina, sauna, quadra poliesportiva e sala de ginástica, avaliado em 250.000 reais – também foi presente de Antonio Nardoni.
Na época em que Alexandre Nardoni começou a namorar Ana Carolina Oliveira, a mãe de Isabella, tinha 21 anos de idade e fama de "filhinho de papai", como dizia, em tom jocoso, a mãe de Ana Carolina, Rosa Maria Cunha de Oliveira, que no princípio não aprovou o namorado da filha.
Após indiciar casal, polícia ouve hoje avô e tia de Isabella
O avô paterno e a tia de Isabella Nardoni serão ouvidos na tarde deste sábado como parte das investigações sobre a morte da menina. Ontem (18), no mesmo dia em que a criança completaria seis anos, o pai e a madrasta foram ouvidos e indiciados pelo crime.
A expectativa é de que os depoimentos de Antônio Nardoni e da filha dele, Cristiane, comecem por volta das 16h. Ao menos 58 pessoas já prestaram depoimento desde que a menina foi assassinada, em 29 de março último.
Isabella, que passava o fim de semana com o pai e com a madrasta, foi jogada do sexto andar do prédio onde o casal morava, na zona norte de São Paulo. Reportagem de André Caramante, da Folha, publicada na Folha Online na última terça (15), revelou que que, para a Polícia Civil e para o Ministério Público, Alexandre jogou a filha de seu apartamento após Anna Carolina ter tentado asfixiá-la.
Alexandre e Anna Carolina ficaram aproximadamente 17 horas no 9º DP (Carandiru), entre a manhã de ontem e a madrugada de hoje. Eles foram ouvidos e indiciados por homicídio.
Após deixar a delegacia, recusaram escolta policial e seguiram para Guarulhos (Grande São Paulo), onde moram os pais de Anna Carolina e onde estão os dois filhos do casal --de um e de três anos.
Desde o início das investigações, o casal nega as acusações e diz que uma terceira pessoa invadiu o apartamento e matou Isabella.
Tumulto
Alexandre e Anna Carolina foram levados à delegacia para prestar depoimento na manhã desta sexta, sob forte esquema de segurança e sob a presença maciça da imprensa e de curiosos que chamavam os dois de "assassinos".
Eles tiveram dificuldade para deixar a casa dos pais de Alexandre, também na zona norte. O casal, que sairia em carro particular, deixou a casa protegido por escudos da polícia e seguiu em direção ao DP em um veículo da Polícia Civil, sob gritos de "assassinos". Pedras foram jogadas. Em frente à delegacia, apesar do forte esquema de segurança montado, um grupo de manifestantes aguardava a chegada do casal, também recebido com gritos de "assassinos".
Também ontem, um dos advogados disse que a família "está sendo julgada com crueldade". "Não julguem para não serem julgados", afirmou Ricardo Martins.
Rua fica interditada para depoimentos de avô e de tia de Isabella
da Folha Online
A rua dos Camarés, onde fica o 9º DP (Carandiru, zona norte de São Paulo), permanece interditada nesta sábado para os depoimentos de Antonio Nardoni e Cristiane, avô e tia da menina Isabella, assassinada no dia 29 de março.
Ambos serão ouvidos na tarde deste sábado. O isolamento da delegacia foi preparado já para os depoimentos de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta da menina, ouvidos ontem (18) e indiciados pelo crime.
O casal permaneceu aproximadamente 17 horas na delegacia e enfrentou manifestações. Eles deixaram o DP por volta das 4h30 e seguiram até Guarulhos (Grande São Paulo), onde moram os pais da moça e onde estão os filhos do casal --de um e de três anos.
Sangue em carro determinou indiciamento de pai e madrasta
Marcas de sangue deixadas por um corte na testa da menina Isabella Nardoni, 5, dentro do Ford Ka de seu pai, Alexandre Alves Nardoni, 29, e também nos sapatos de Anna Carolina Jatobá, 24, madrasta da menina, somadas aos depoimentos de várias testemunhas que ouviram uma intensa briga entre o casal, foram primordiais para que a polícia os indiciasse pela morte da menina.
Nos últimos dias, vários trechos de laudos do IC (Instituto de Criminalística) e do IML (Instituto Médico Legal) vazaram com informações incorretas e, ontem, com a entrega à polícia dos documentos oficiais, muitas foram corrigidas.
Havia sangue de Isabella no encosto traseiro do banco do motorista, na face da lateral esquerda da cadeirinha do irmão mais novo da menina e no assoalho. Isso comprova, segundo os peritos, que as agressões contra Isabella começaram ainda dentro do veículo e desmonta a versão de Nardoni e da mulher de que não sabiam como o corte constatado na testa da menina foi causado.
A polícia acredita na possibilidade de a madrasta ter dado um tapa na menina e que a agressão a fez bater a cabeça no braço esquerda da cadeirinha.
A menina sangrou muito e uma fralda do irmão mais novo foi usada para estancar o sangue. Já no apartamento, onde foi apreendido um bilhete com "frases de descontentamento desconexas" e com a letra de Anna, Nardoni e a mulher teriam usado uma toalha para limpar o rosto da menina.
Na versão construída pela polícia, o casal teria brigado por ciúmes e Anna Jatobá tentou asfixiar a menina, que desfaleceu. As marcas no pescoço de Isabella correspondem com as das mãos da madrasta.
Para encobrir a violência e por achar que Isabella estava morta, o pai a lançou, com a cabeça para baixo, já que foram achadas marcas das mãos dela entre o 6º e o 5º andares do prédio que indicam essa posição,
Outro indício que leva a polícia a acreditar que Nardoni estava com a filha em seu apartamento no momento em que ela foi lançada pela janela foram as marcas de sangue achadas no hall do apartamento, na sala, no corredor, perto do banheiro, no dormitório dos meninos e no lençol do quarto de Isabella. As manchas de sangue caíram no chão de uma altura de 1,25m e são compatíveis com a altura de Nardoni, segundo os peritos do IC, a carregando no colo.
As marcas de sangue correspondem às mesmas de um adulto caminhando. À distância, as marcas equivalem aos passos de um adulto com o porte físico de Nardoni.
A fratura encontrada no pulso direito de Isabella, segundo os peritos, foi causada por uma atitude de defesa, muito provavelmente quando a menina era agredida pela madrasta.
Foram encontradas duas marcas correspondentes às dos chinelos que Nardoni usava na noite do crime. Para a perícia, elas foram deixadas quando ele acessou a janela por onde arremessou a filha. No quarto havia duas camas de solteiro, uma encostada à outra.
Quando Nardoni subiu nas camas, muito provavelmente com a filha no colo, ele se desequilibrou e as camas se separaram, fazendo com que o lençol que as envolvia caísse. A tela da janela havia sido cortada com uma faca e com um tesoura.
Uma das pegadas estava em um lençol na cama posicionada perto da janela. Essa marca é do chinelo do pé direito de Nardoni. A segunda marca é de um escorregão e corresponde ao pé esquerdo dele. O espaço entre as duas pegadas é compatível com o de um adulto e com as características de Nardoni. As pegadas o colocam, tecnicamente, na cena do crime.
Os peritos também acharam marcas de sangue de Isabella em um par de calçados que Anna usava na noite do crime. Como testemunhas afirmam que ela não chegou perto de Isabella quando a menina foi encontrada caída, essa evidência também a coloca na cena do crime, dentro do apartamento em que vivia com a família.
Marcas no pescoço de Isabella são compatíveis com mãos da madrasta
Os peritos da Polícia Técnico-Científica de São Paulo concluíram que as marcas encontradas no pescoço da menina Isabella Nardoni, 5, morta no último dia 29 de março, são compatíveis com as mãos da madrasta dela, Anna Carolina Jatobá, de acordo com informações do “Jornal Nacional”, da Rede Globo.
Essa informação, somada a outros resultados, foi o que levou a Polícia Civil a indiciar Jatobá e o pai de Isabella, Alexandre Nardoni, por homicídio doloso (com intenção de matar), nesta sexta-feira, data em que a menina completaria seis anos. Com o indiciamento, o casal se tornou oficialmente suspeito de matar a menina.
Isabella, que passava o fim de semana com o pai e a madrasta, foi jogada do sexto andar do prédio em que o pai mora, na zona norte de São Paulo.
Para a Polícia Civil, a madrasta agrediu Isabella e, na seqüência, Alexandre cortou a grade de proteção de uma janela de seu apartamento e jogou a menina. Desde o início das investigações, o casal nega as acusações e diz que uma terceira pessoa, provavelmente um criminoso, foi o autor do assassinato.
“O caso está praticamente solucionado”, afirmou o delegado Aldo Galiano Júnior, diretor do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital).