Em carta, Lyra se defende e ataca caráter de Renan

BRASÍLIA - Em carta aberta distribuída aos órgãos de imprensa, o usineiro e ex-deputado João Lyra se defende das acusações feitas contra ele por seu ex-sócio e presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cobra-lhe explicações à Nação e o chama de "hipócrita", "bajulador", de má-formação de caráter e de lhe fazer "calúnias". O senador afirmou que Lyra é acusado de "vários homicídios, inclusive crimes de mando".

Na carta, de duas páginas, Lyra afirma que "tamanha é a hipocrisia" da atitude de Renan, que, se ele (Lyra) "fosse um malfeitor" como diz o senador, como é que este explicaria à Nação o fato de ter sido recebido no gabinete da Presidência da República quando Renan assumiu o cargo de presidente interinamente.

"Como explicaria à Nação as incontáveis vezes em que me convidou ao seu gabinete na presidência do Senado para longos e demorados diálogos sobre nossos negócios e projetos?", questiona o usineiro, que foi sócio de Renan em duas emissoras de rádios registradas, segundo Lyra, em nome de "laranjas" a pedido do senador.


Acrescenta o usineiro: "Ele (Renan) tampouco tem como explicar à Nação brasileira por que, quando era ministro da Justiça e até há bem pouco tempo, como senador, banqueteava-se pelos Céus do Brasil em minhas aeronaves, sem qualquer pagamento." E pergunta: "Será que Vossa Excelência, sendo a reserva moral que prega ser, se verdadeiramente o fosse, aceitaria receber tantas e tamanhas vantagens indevidas de um contumaz criminoso? Evidente que não. Basta, senador. O silêncio tumular de Vossa Excelência a respeito dessas indagações somente serve para pôr em caixa alta a deformação moral do seu caráter. Enquanto fui-lhe útil, enquanto minha estrutura financeira estava a servi-lo, nunca fui acusado por Vossa Excelência de cometer crimes. Ao contrário, de sua parte era alvo de sorrisos fáceis e bajulações."

João Lyra diz ainda: "Por crimes, responde o senhor e sua família. Eu, ao contrário, respondo por desenvolvimento, por geração de empregos e receitas para Alagoas e para o Brasil." No final da carta, Lyra afirma que não foi ele o causador das "desgraças" de Renan, acusado em dois processos no Conselho de Ética do Senado. "Portanto, não me agrida com calúnias. Foi o senhor mesmo (o causador), e por seus próprios atos. Não me atribua pecados que não tenho. Perca o cargo, mas procure manter um resto de dignidade, se alguma ainda lhe resta."

A Mesa do Senado se reúne nesta quinta para decidir se abre um terceiro processo contra Renan no Conselho de Ética, para investigar se de fato houve uso de laranjas. Já Lyra, irá prestar depoimento nesta tarde ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM).