PARIS (Reuters) - A França menosprezou na quarta-feira os apelos feitos na China para que os consumidores boicotassem produtos e marcas francesas, depois de manifestantes pró-Tibet e defensores dos direitos humanos terem atrapalhado a passagem da tocha olímpica por Paris, na semana passada.
Internautas chineses estão pedindo que os consumidores deixem de comprar produtos vindos da França e de frequentar empresas como a cadeia de supermercados Carrefour, que, segundo eles, dariam apoio a grupos pró-Tibet acusados de tentar impedir a realização dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Os chineses foram incentivados por meio de mensagens eletrônicas e salas de bate-papo on-line a deixarem de fazer compras nas lojas do Carrefour a partir de 1o de maio. Alguns, pela internet, acusaram a empresa de dar dinheiro ao líder espiritual do budismo tibetano no exílio, Dalai Lama.
"Nós ouvimos a voz do povo chinês, que é um povo amigável, mas os apelos para o boicote estão sendo feitos por uma minoria muito reduzida e não temos nenhuma notícia sobre alguma consequência dessas iniciativas para as nossas relações econômicas", afirmou a repórteres Pascale Andréani, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da França.
A passagem da tocha olímpica por Paris, durante o revezamento mundial realizada antes dos Jogos, foi marcada por vários protestos que fizeram com que membros de equipes chinesas de segurança apagassem a chama várias vezes e a colocassem em um ônibus.
A China vem travando uma guerra de propaganda contra o Dalai Lama, a quem acusa de ter planejado os distúrbios violentos ocorridos no mês passado, na capital do Tibet, Lhasa, e em outras áreas tibetanas de Províncias chinesas vizinhas. O líder espiritual rejeitou as acusações.
Protestos realizados em Londres e em San Francisco também atrapalharam a passagem da tocha, mas os eventos ocorridos em Paris provocaram uma comoção especial na China devido à imagem de um atleta chinês paraolímpico protegendo a chama de manifestantes enquanto estava sentado em uma cadeira de rodas.
Jin Jing, de 27 anos, passou a ser chamado de o "anjo na cadeira de rodas."
A grande maioria dos chineses está empolgada com os Jogos Olímpicos e muitos deles deram apoio ao governo acusando de separatistas ou terroristas os grupos tibetanos pró-independência.
A China diz que ao menos 18 civis inocentes foram mortos por grupos violentos formados por tibetanos em Lhasa. O governo do Tibet no exílio diz que o número total de mortos ficou em 140, a maior parte deles vítimas das ações repressivas lançadas pelos chineses.
O Carrefour divulgou um comunicado na quarta-feira negando qualquer envolvimento em questões políticas da China.
"As informações que circulam na internet sugerindo que o Grupo Carrefour envolveu-se de alguma forma nas questões de política interna da China ou em suas relações internacionais são falsas e infundadas", disse a empresa.