Adoçantes: melhor usar com moderação
Adoçantes: melhor usar com moderação
Por Vera Fiori
São Paulo, 26 (AE) - Composta por enxofre e nitrogênio, a sacarina é um dos mais antigos e populares adoçantes do mercado, tendo sido descoberta em 1879. De lá para cá triplicaram as opções de produtos para quem é diabético ou simplesmente deseja manter a forma. Vez ou outra surgem pesquisas que associam o consumo de tais produtos a doenças como câncer ou até mesmo ganho de peso, gerando dúvidas no consumidor. De acordo com os médicos, sem evidências científicas que provem o contrário, os adoçantes são seguros desde que observadas as indicações de uso e quantidades máximas de ingestão recomendadas.
Para entender melhor, o adoçante dietético é produzido a partir dos edulcorantes, componentes naturais (frutose, sorbitol, monitol e esteovídeo) ou artificiais (aspartame, ciclamato, sacarina, acessulfame-k sucralose), responsáveis pelo sabor doce. Em geral, os edulcorantes possuem um poder de adoçar muito maior do que o açúcar da cana.
Segundo uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), três novas substâncias devem chegar à mesa do consumidor brasileiro. São elas a taumatina (edulcorante natural, obtido de uma fruta originária do oeste africano, 2500 vezes mais doce do que o açúcar), o eritrol (como o sorbitol, é considerado um edulcorante alcoólico) e o neotame (obtido através da modificação da molécula do aspartame, mas, ao contrário deste, ele não é contra-indicado para fenilcetonúricos, e é 8000 vezes mais doce do que o açúcar, sendo o preferido pela indústria de refrigerantes).
Com a medida anunciada em março, o órgão visa à redução da quantidade máxima dos adoçantes sacarina e ciclamato em bebidas e alimentos, por conterem sódio, grande vilão da hipertensão. As empresas têm três anos para adequarem seus produtos ao novo regulamento. Para a nutricionista Adriana Alvarenga, gerente de informação científica da empresa Gold Nutrition, a medida faz com que a indústria alimentícia reveja as composições dos seus produtos e as diversifique.
Açúcar ou adoçante, eis a questão. Adriana faz um alerta sobre o consumo exagerado do açúcar, muito além dos 10% da ingestão diária de calorias recomendada pela Organização Mundial de Saúde.
- Hoje vemos crianças com diabetes tipo 2, doença que era só de adultos. O açúcar não seria necessário por uma questão nutricional, afinal, outros tipos de carboidratos mais saudáveis do que ele fornecem a mesma energia e de forma mais adequada ao organismo, agregando outros nutrientes importantes. É o caso das frutas, ricas em vitaminas e minerais, e dos pães e massas integrais, que são ricos em fibras.
Na opinião da nutricionista Marlene Merino, coordenadora do departamento de nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes, em pequenas quantidades, o açúcar (sacarose) não é vilão, e pode ser incluído em uma alimentação balanceada e saudável.
- A sacarose é um nutriente essencial para o funcionamento pleno do cérebro. Muitas vezes, a causa do excesso de peso não está no uso do açúcar, mas sim na sua associação com outros alimentos ricos em gorduras, como doces e sorvetes. O adoçante tem indicação específica e só deve ser utilizado se houver recomendação do médico ou nutricionista.
MODERAÇÃO - Na opinião de Celso Cukier, nutrólogo da unidade Morumbi do Hospital São Luiz, em pequenas quantidades e em pessoas sem restrições alimentares, o açúcar pode ser até benéfico, especialmente no caso daqueles que fazem atividades físicas. Isso porque, uma vez metabolizado pelo organismo, ganha-se massa muscular. "Uma colherzinha de açúcar no café não vai fazer mal."
Muitas pessoas não usam açúcar refinado, tampouco adoçante, optando pelo açúcar mascavo ou mel, considerados mais saudáveis. Porém, os nutricionistas alertam que não são alternativas para o controle de peso, porque têm as mesmas calorias do açúcar comum. Esses alimentos possuem, sim, melhor benefício nutricional (vitaminas e minerais), porque não passam pelo processo da refinação do açúcar comum.
Uma dúvida comum é sobre o uso de adoçantes por crianças e grávidas. No caso dos pequenos, na opinião da nutricionista Marlene Merino, vai depender da dieta recomendada caso a caso. "Sem dúvida, o incentivo para uma alimentação saudável, associada à prática de atividade física regular, surte mais efeito no controle de peso do que somente o uso do edulcorante em substituição ao açúcar." Quanto ao segundo caso, informa que o FDA (Food Drug Administration), órgão internacional controlador de remédios e alimentos, liberou o uso de alguns adoçantes durante a gravidez, inclusive nos três primeiros meses. "Para grávidas com diabetes, recomendo o uso da sucralose, que é um edulcorante derivado da sacarose."
POLÊMICAS - Adoçante engorda? A recente divulgação de um estudo da Universidade de Purdue - em que ratos teriam ganhado peso com sacarina - causou o maior rebuliço. Mas, segundo a nutricionista Marlene Merino, a substância em si não engorda. "A pesquisa americana verificou que o sabor muito doce deste edulcorante provocou reações exacerbadas no organismo dos ratos, e a falta da glicose foi compensada pelo maior consumo de ração. Ou seja, a sensação doce causada pela substância desregularia o organismo, levando-se a comer mais. Essa teoria não pode ser extrapolada para o homem que, entre outras coisas, possui um controle de ingestão muito mais complexo."
Causa câncer? "Não existem evidências científicas até o momento para sustentar essa hipótese em humanos. As pesquisas que geraram algumas dessas informações foram realizadas em ratos, com doses muito altas de edulcorantes e de forma aguda, o que não representa o uso regular do produto em pessoas diabéticas, por exemplo. O que ocorre é que, em doses excessivas, poderia provocar problemas de toxicidade nos órgãos excretores, como intestinos e rins", fala a nutricionista.
Pensar que os adoçantes provenientes de frutas são mais saudáveis é um mito. "A frutose em forma de edulcorante pode favorecer a dislipidemia, que é um aumento anormal da taxa de lipídios no sangue."Os profissionais são unânimes em recomendar moderação no consumo de adoçantes. Um exemplo: só porque são diet, os refrigerantes não devem ser tomados indiscriminadamente.
Boxe: Qual é qual
- Acesulfame de potássio: pessoas qu7e necessitam limitar a ingestão de potássio (K) só devem consumi-lo após consulta médica. Geralmente, é associado a sacarina e ciclamato de sódio. Marcas: Assurgin e Doce Menor.
- Ciclamato de sódio: alguns estudos da década de 1970 apontaram efeitos carcinogênicos no ciclamato de sódio em ratos. Por isso, é ilegal nos Estados Unidos, Inglaterra, França e Japão. Em mais de 50 países, incluindo o Brasil, seu uso é autorizado. Costuma ser combinado com a sacarina. Marca: ZeroCal.
- Estévia: derivada da planta de mesmo nome, já era utilizada pelos índios tupis-guaranis. Em geral, é associada a outros adoçantes e, por isso, deixa de ser "natural". Há poucos estudos para assegurar o seu uso. Marcas: Stevita (pura) e Good Light.
- Sacarina: geralmente associada ao ciclamato, tem poder edulcorante 200 a 700 vezes maior do que a sacarose, presente no açúcar. Foi descoberta em 1879 e era utilizada inicialmente como anti-séptico e conservante. Os adoçantes feitos de ciclamato e sacarina têm gosto amargo, mas são os mais baratos. Marca: ZeroCal.
- Sucralose: é o único que deriva da cana, por isso, tem um sabor considerado mais próximo ao do açúcar refinado. Pode ser consumido com segurança por diabéticos, gestantes e por pessoas de qualquer faixa etária e estado fisiológico. Marca: Linea (com acesulfame-K).
- Aspartame: feito com proteínas naturais, possui sabor mais próximo do açúcar, em comparação com sacarina e ciclamato. Geralmente é associado ao sorbitol extraído das frutas. Marcas: Finn e Gold.
- Frutose: extraída de frutas e do mel, possui algumas calorias. Especialistas não recomendam seu uso por diabéticos, porque favorece a elevação do colesterol. Marcas: Doce Menor e Lowçucar.
Fonte:
Sociedade Brasileira de Diabetes