Delegada afirma que atrasou boletim por natureza inédita do caso Isabella

Folha de São Paulo
PAULO TOLEDO PIZA
Colaboração para a Folha Online

Em depoimento no Fórum de Santana --zona norte de São Paulo-- Renata Pontes, delegada responsável pelo inquérito policial do caso Isabella, afirmou que não registrou boletim de ocorrência na mesma noite da morte da menina, em 29 de março deste ano, pois nunca viu um crime patrimonial --relativo a roubo ou furto-- em que o criminoso jogasse a vítima pela janela.

A delegada é a quinta testemunha a prestar depoimento ao juiz Maurício Fossen, nesta terça-feira, na 2ª Vara do Júri do Fórum de Santana

Pontes, delegada do 9º Distrito Policial, não registrou o boletim na noite do crime, mas apenas 18 horas depois. Ela afirmou no depoimento que teve o 'cuidado' de demorar para registrar a ocorrência pois acreditava que os suspeitos poderiam ter vínculo com a vítima.

Segundo a assessoria de imprensa do TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo, ao término do depoimento de Pontes o casal Alexandre Nardoni, 29, e Anna Carolina Jatobá, 24, estava tranqüilo, 'conversando' e 'sorrindo'.

Ambos não acompanharam os três últimos depoimentos previstos para essa noite: Alexandre de Lucca, subsíndico do prédio onde o casal morou antes de se mudar para o edifício London, Paulo César Colombo, morador do referido prédio, e uma pessoa cujo nome é mantido em sigilo como medida de segurança.

Contradições

Segundo a delegada, quando chegou ao local do crime, Alexandre perguntou a ela se já haviam encontrado o ladrão, e em seguida levantou suspeita em relação ao porteiro do prédio.

Pontes declarou que após conversar com um dos vizinhos do apartamento do casal no edifício London, notou uma contradição na versão do pai de Isabella, pois o vizinho afirmou ter ouvido uma criança gritar: 'pára, pai, pára'.

O fato de Alexandre querer apontar o porteiro como suspeito, a contradição entre as versões dele e do vizinho, aliados à tela de proteção da janela rasgada --o que, para a delegada, seria impossível ter sido feito por uma criança-- deram à Pontes a 'noção' de que o crime não havia acontecido como o pai de Isabella havia descrito, segundo depoimento da própria delegada.

'É difícil entender como um ladrão mata uma criança, mas também é difícil entender como um pai mata a própria filha', afirmou Pontes, segundo a assessoria de imprensa do TJ.

Maus tratos

A delegada negou que os réus teriam sido maltratados na delegacia, e disse que não sofreu pressão de seus superiores para chegar a um desfecho rápido do caso. Afirmou ainda que não acompanhou o caso pela imprensa.

O depoimento de Renata Pontes terminou às 20h38.

Após a realização do depoimento não previsto de Benícia Maria Bronnzati Fernandes no fórum de Santana nesta terça-feira --ela só seria ouvida na cidade de Franca, (interior de SP), onde mora, na próxima quarta-feira (25)-- Karen Rodrigues da Silva, outra testemunha da promotoria, foi dispensada de prestar depoimento.

Benícia afirmou que veio de Franca para depor a pedido do promotor, que a convenceu que seu testemunho seria mais relevante se dado neste momento do processo e na presença do júri da capital.

Após o depoimento da delegada Renata Pontes, houve um intervalo na audiência.

Legista

O médico legista Paulo Sérgio Tieppo Alves voltou a afirmar, em seu depoimento ao juiz, que o corpo da menina tinha sinais de asfixia e poucas lesões externas, sendo que a que mais chamou sua atenção foi uma fratura no punho.

O médico disse em seu depoimento acreditar que o ferimento no punho foi causado por um movimento de defesa da criança, e que havia secreções de vômito nas narinas, no pulmão e nas roupas de Isabella.

Questionado pelo promotor sobre as causas da morte --se seria por asfixia ou em virtude da queda do sexto andar do edifício--, disse que pode haver 'mais de uma causa'.

Ele e outros dois legistas rejeitaram a possibilidade de que a asfixia teria sido causada pela queda da menina, segundo o depoimento do médico, que acrescentou ser possível que Isabella tenha sido esganada e mesmo assim não ter lesões internas e externas visíveis, mesmo que isso seja pouco comum.

Tieppo disse ainda que quando o resgate chegou na noite do crime --em 29 de março-- Isabella já estava morta por parada cardio-respiratória, e que a equipe médica que a socorreu não causou nenhuma lesão na menina.